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Começa com uma faísca: o cansaço. Com o vento quente da vergonha, a dúvida se alastra e daí o fogo não pode mais ser controlado. A alma é uma mata seca. Pareço mirar em algum alvo, mas passeio pelo passado contando minhas falhas como madeiras estalando. Será que estou só a repetir os erros dele? Existir é queimar até consumir-se a si mesmo. Tudo o que sobra são cinzas. Se eu pudesse me extinguir, continuaria a existir pelo menos em sonho, da maneira mais bela: a nunca realizada.

São em noites como essa que acontece. Depois, nada. Amanhã, tudo continua igual. Infinitos já passaram, a única pessoa para quem eu importo sou eu mesmo. E nem isso. Tocar o outro é uma impossibilidade radical, porque alcançar não é com a mão sem poesia. Tocar é com a alma, que jamais estende o braço; se abraça e se fecha.