Oblomovismo enquanto potência

Uma versão reduzida desse texto pode ser encontrada aqui

É uma coincidência interessante que Oblómov tenha sido traduzido diretamente do russo em 2013 pela Cosac Naify. A excelente nova tradução de Rubens Figueiredo de uma obra de 150 anos demonstra como a literatura é capaz de recontextualizar e ser recontextualizada. Portanto, embora a análise mais superficial do romance encare a inação do protagonista uma caricatura do declínio da nobreza com o fim da servidão na Rússia, defendo que ela pode ser encarada como uma estratégia de potência estética e resistência política, colocando-o ao lado do consagrado Bartleby de Herman Melville.

asdasdas.jpg Continue reading “Oblomovismo enquanto potência”

O antimito de Aquarius

Há muito acontecendo em Aquarius. Seria exaustivo e incompleto listar os fios narrativos que compõem a trama cotidiana de Clara ou relatar o conforto com que Kleber Mendonça se utiliza da imagem cinematográfica para nos afundar nessa ressaca social. O filme, como obra-prima que creio que seja, resiste a todos os tipos de leituras e atitudes do espectador, desde aquele afogado pela fantástica cotidianidade da narrativa, até aquele que procura segurar-se à artificialidade da tela do cinema.

Aquarius3_3aab7.jpg Continue reading “O antimito de Aquarius”

Livro dos começos

Noemi Jaffe fia teoria estética, filosofia, literatura e existência em um livro que nos põe diante da irrealidade do real, com seus paradoxos e multiplicidades expostos – desde os começos.

livro-comecos_01_1053
As fotos do livro foram retiradas do portfolio de Flávia Castanheira, designer do projeto gráfico

Continue reading “Livro dos começos”

Padrões de Intenção e a ordem pictórica: um resumo

“Nós não explicamos um quadro: explicamos observações sobre um quadro”. É assim que Michael Baxandall inicia o seu Padrões de Intenção – A explicação histórica dos quadros, uma obra subliminarmente reflexiva sobre a crítica e história da arte. A frase é a partida epistemológica da crítica inferencial, que encara o tato crítico e domínio histórico como quase a mesma coisa. Continue reading “Padrões de Intenção e a ordem pictórica: um resumo”

“Até o fim da queda” de Ivan Mizanzuk

O demônio tem muitas faces. Ivan Mizanzuk também.

“Até o fim da queda” não é uma leitura convencional; não poderia ser, vindo de um bacharel em Design, mestre em ciências da religião, doutorado de tecnologia com ênfase em Design a caminho. Você é jogado no universo do escritor Daniel Farias, que conversa sobre o lançamento de seu último livro, que levou muitos jovens ao suicídio. Mas não só nesse universo. Continue reading ““Até o fim da queda” de Ivan Mizanzuk”

Por uma resposta sempre-provisória

Desde setembro, eu achava que escreveria até semanalmente para o blog, já que eu iria começar a estudar um tanto mais para o mestrado. Quanto mais conteúdo eu tivesse para ler, mais eu escreveria; eu teria muito mais matéria-prima para trabalhar os textos e eles ficariam mais ricos… mas nada disso aconteceu. Muito pelo contrário, eu nunca fiquei tão travado.

Continue reading “Por uma resposta sempre-provisória”